Especial Mulher & Ciência (Funcap): entrevista com Ana Shirley Ferreira da Silva
Data da publicação: 9 de março de 2016 Categoria: NotíciasEm comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) publicou um material especial sobre a participação das mulheres na Ciência.
A primeira entrevista da série foi com a professora Ana Shirley Ferreira da Silva, do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Ceará (UFC). A pesquisadora teve um projeto de pesquisa contemplado com o Prêmio Para Mulheres na Ciência 2014. A premiação é promovida pela empresa L’Oréal Brasil em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Bacharel e mestre em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Ceará, Ana Silva cursou o Doutorado em Matemática e Informática pela Université Joseph Fourier, na França. Entre as pesquisas desenvolvidas pela professora, o projeto “Indice e Número b-cromáticos de grafos com estrutura de árvore” contou com apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) por meio do Edital 07/2012 – Programa Jovens Pesquisadores.
Confira a entrevista.
1 – Professora, o que a levou para sua área de pesquisa? Quais foram as influências? Existe alguma referência feminina atual?
Eu trabalho na área matemática conhecida como combinatória, que pode ser vista como a matemática do computador. Desde criança, a matemática sempre me deu grande prazer, mas me decidi por esta área específica após cursar uma disciplina do 1o. semestre do curso Bacharelado em Ciências da Computação, chamada Matemática Discreta. A professora da disciplina foi a professora Cláudia Linhares Sales, uma grande referência nacional na área, que me inspirou e ainda me inspira com sua garra e grande inteligência.
2 – Quais pesquisas a senhora está desenvolvendo agora?
Trabalho principalmente com problemas de coloração em grafos. Estes problemas teóricos podem modelar os mais variados problemas práticos, como por exemplo, alocação de frequência para antenas, escalonamento de tarefas, redes biológicas, planejamento de torneios, clusterização, etc.
3 – Como se deu a construção da sua carreira científica em um meio (academia) que não está imune ao machismo da sociedade?
Nunca me deixei abalar por qualquer desmotivação externa, não importa sua origem. Porém, algumas vezes somos vítimas de um preconceito tão enraizado que as próprias pessoas que o perpetram não tem total consciência do que sentem. Por exemplo, quando submeto projetos e artigos, eu preciso mostrar quem sou e que sou uma mulher. É possível (na verdade, provável) que alguns dos revisores sejam pessoas sexistas, em maior ou menor grau. Mesmo sem querer, sua revisão pode ser levemente mais negativa do que se o autor do mesmo projeto ou artigo fosse um homem. De fato, já foram feitos vários experimentos onde este fato ficou evidenciado, e não somente em áreas científicas.
4 – A senhora vivenciou um presenciou algum caso de machismo durante sua carreira?
Sim, várias pequenas brincadeiras que tenho certeza que mesmo as pessoas que falam não tem consciência de que elas surgem de um real preconceito com o sexo feminino. Pra citar apenas um exemplo, na faculdade de computação era comum professores dizerem, em tom de brincadeira, que as mulheres do curso não eram capazes de aprender a programar, ou de aprender certos conceitos mais matemáticos e abstratos, etc. Minha escolha para enfrentar isso foi ficar entre os melhores da turma em todas as disciplinas.
5 – Qual mensagem a senhora gostaria de deixar para as meninas e jovens que possuem interesse ou já iniciaram uma carreira no mundo da Ciência?
Minha mensagem para as jovens que pretendem seguir carreiras científicas é que jamais se deixe definir pelo seu sexo. Apenas esqueça que o machismo ainda está presente na sociedade e se concentre em fazer um excelente trabalho. É apenas mostrando para a sociedade como as mulheres podem brilhar que derrubaremos os preconceitos ainda existentes. Não diga “a mulher pode fazer”, faça!
Entrevista da pesquisadora para o canal da L’Oréal Brasil no Youtube: http://bit.ly/1R2T4PU.
Fonte: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap)